Segunda-feira, 20 de Novembro de 2006
Tenho uma particularidade: se puder escolher, só escrevo com canetas de aparo. Daí que passe a vida a transportar canetas comigo de um lado para o outro. Tornei-me um coleccionador amador.
Tudo começou na escola secundária, acho que no 11º ou 12º ano ou assim. Comprei uma caneta daquelas baratas de plástico, acho que tinha um motivo da Façonnable ou Burberry ou qualquer coisa assim - comprei-a na papelaria que havia dentro da escola.
E durante umas semanas fiquei contente, adorei a caneta, e só escrevia com ela. Mas surgiu o primeiro problema, o primeiro momento de cobiça, de fascinio provocado por estes objectos simples - uma colega da minha turma na altura começou a interessar-se pela caneta e eu, claro, sempre disposto a agradar às mulheres, dei-lhe a caneta depois de fazermos um exame. Parvo, até porque eu não gostava da Nádia, gostava da Teresa, a colega de carteira dela.
Depois disto, fui a correr à papelaria comprar outra caneta igual, mas já não havia com o mesmo desenho, tive que escolher outra do mesmo fabrico mas com desenho diferente - nunca mais foi a mesma coisa, já não escrevia da mesma maneira.
Com a entrada na universidade, e cada vez mais viciado, apareceu a primeira Parker - uma coisa linda, com um aparo esculpido com umas curvas, corpo verde escuro com acentos dourados, ainda hoje a tenho e a uso - está neste momento em cima da minha mesa do escritório em casa. Mas também não me satisfazia completamente, tinha um traço muito largo, as palavras às vezes pareciam borrões com a pressa de tomar apontamentos. O que vale é que também não olhava muito para os apontamentos depois. O simples acto de escrever as notas era suficiente para interiorizar a matéria na minha cabeça. Ainda hoje sou capaz de decifrar os meus gatafunhos, não por perceber realmente o que escrevi, mas por me lembrar do que escrevi.
A perfeição só voltou a meio do curso quando...
sinto-me: Contador de histórias